Entrevista com o candidato à Prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias

Queremos fazer com que toda a população, se prepare e participe da discussão e das prioridades da cidade. Então, a questão da saúde será uma grande prioridade nossa.


Imagem: Divulgação

Patrus Ananias de Souza é advogado e professor licenciado pela PUC Minas desde 1979. Natural de Bocaiúva, cidade onde passou a infância e adolescência, aos 20 anos Patrus mudou-se para Belo Horizonte e iniciou sua vida política ainda na universidade quando cursava direito pela UFMG. Nos anos 70 participou de movimentos políticos e sociais que resultaram na formação de seu atual partido, o Partido dos Trabalhadores (PT). Foi eleito vereador de Belo Horizonte em 1988 e chegou à prefeitura da capital mineira em 1992 derrotando Aécio Neves (PSDB-MG). Candidatou-se em 1998 a governador de Minas Gerais, mas foi derrotado por Itamar Franco (PMDB). Mais tarde, no ano de 2002, com 520 mil votos se elegeu deputado federal, nas eleições seguintes, em 2004, foi convocado por Lula, então presidente da república, a implantar o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), onde permaneceu até 2010, quando lançou sua candidatura a vice-governador de Minas Gerais na chapa de Hélio Costa (PMDB), saindo derrotado por Antonio Anastasia (PSDB).

Quando o senhor se filiou ao Partido dos Trabalhadores?

Eu me filei ao Partido dos Trabalhadores em 1981, mas conheci o Lula antes do PT. Ele na época era o presidente do sindicado dos metalúrgicos de São Bernardo e eu, advogado. Trabalhava na área sindical dos metalúrgicos, dos jornalistas, radialistas, assistentes sociais, engenheiros e também de associações comunitárias, pastorais e movimentos sociais. Então, eu me filiei ao PT em 1981 e fui candidato a vereador em 1982. Fizemos uma bela campanha e tive uma grande votação.

O que levou o senhor, advogado de causas sociais, a se candidatar a um cargo político?

O compromisso que eu tenho é com o bem comum. É claro que a minha geração foi muito marcada pela política. Nós nos formamos na luta contra a ditadura nos anos setenta, na luta pelos direitos sociais, a retomada do movimento sindical, os direitos trabalhistas, os direitos dos pobres e o movimento estudantil. O período também que a igreja pregava a teologia da libertação nas pastorais sociais comprometidas com a vida, que estimulava muito a dimensão política, que é uma dimensão superior, aquela dita por Aristóteles. Para ele, nós somos seres políticos. Então, a política, o “ser político” foi se mostrando naturalmente na minha vida, a política apareceu de forma natural.

No ano que eu fui candidato a vereador, em 1982, o PT elegeu 14 vereadores em todo o estado, um deputado estadual, um deputado federal e nenhum prefeito. Apesar da grande votação que eu tive, não fui eleito por falta de legenda. O PT só elegeu dois vereadores em Belo Horizonte. Muitos falaram que este seria o fim do partido, mas, nós continuamos trabalhando. Eu fui secretário geral do PT e depois me elegi vereador em 1988, aí fui o relator da Lei Orgânica. Em 1992 saí da câmera para ser prefeito de Belo Horizonte.

O que levou o senhor a prefeitura de Belo Horizonte em 1992?

O trabalho que nós fizemos na câmera que me levou a prefeitura de Belo Horizonte. Eu tive um trabalho expressivo na câmera dos vereadores, o PT elegeu na época 9 vereadores e nós fizemos um trabalho muito sério na câmera, inclusive de moralização. Eu fiz um projeto acabando com aquelas “caixinhas” de aposentadorias privilegiadas de vereadores, ex-vereadores e prefeitos. Fizemos um trabalho muito forte, estabelecemos também um intenso trabalho com a comunidade. O fato de eu ter sido o relator da Lei Orgânica foi muito importante. Eu fui também candidato a senador em 1990 e foi uma

candidatura muito bonita. Não me elegi, bati na trave, fiquei em segundo lugar, mas fui o mais votado em Belo Horizonte. Isso me deu uma maior visibilidade e preparou o terreno. No ano posterior, nós tivemos uma prévia da disputa no PT, e eu ganhei. Assim, começou uma longa campanha. Eu apresentei minha candidatura a prefeito de Belo Horizonte no dia 10 de dezembro de 1991, em homenagem ao dia da Declaração dos Direitos Humanos. A prévia no partido ocorreu por volta do mês de março e, vitorioso nas prévias, fui fazer campanha. Em outubro de 1992, foi o primeiro turno e naquele tempo o segundo turno era 45 dias depois. Nós fomos para o segundo turno e eu fui eleito prefeito de Belo Horizonte no dia 15 de novembro de 1992, quase um ano depois de campanha. Foi uma campanha memorável, eu percorri a cidade inteira, inclusive as comunidades. Fizemos uma campanha muito propositiva e com muitas ideias, como estamos fazendo agora também.

O que o senhor vê como ponto positivo no seu mandato na década de noventa?

O Orçamento Participativo, o fazer com que as pessoas participem. Eu penso que o poder público tem obrigação e dever de promover as políticas públicas, fazer as obras e cuidar das pessoas como nós fizemos. Mas também é muito importante criar condições para que as pessoas sejam melhores, para que possam exercer a sua cidadania e dar a sua contribuição para o bem comum.

Outra questão fundamental foi ter enfrentado o problema da fome em Belo Horizonte, isso vem também da questão da tradição cristã, católica e evangélica: dar de comer a quem tem fome. Nós fizemos o Restaurante Popular, implantamos uma rigorosa política de segurança alimentar na cidade, como dos programas Abastecer e Direto da Roça, que permitiam uma relação direta com o consumidor. Tenho também ótimas lembranças do que nós fizemos na área da saúde, a redução em 30% da mortalidade infantil, o fato de termos triplicado a capacidade de atendimento do Hospital Odilon Behrens, o convênio que fizemos com a UFMG ao integrar o Hospital das Clínicas com a rede municipal e o carinho que tivemos com os centros médicos. Nós conseguimos vencer a fome, mas temos outro desafio, que é acabar com a miséria em Belo Horizonte, vencer a pobreza absoluta e dar a todos os belo-horizontinos condições básicas para viver. Outra experiência vitoriosa que eu pretendo ampliar é o Orçamento Participativo, transformá-lo no Planejamento Participativo da Cidade. Nós sabemos que o Orçamento Participativo é anual. Queremos fazer com que toda a população, se prepare e participe da discussão e das prioridades da cidade. Então, a questão da saúde será uma grande prioridade nossa.

No mandato do senhor houve uma grande mudança na avaliação dos alunos com o ensino plural. Esse sistema de avaliação foi considerado por muitos estudiosos e professores como ineficiente. O senhor considera que essa mudança na educação foi um erro?

Nós fizemos um trabalho belíssimo na educação. O que está acontecendo hoje com as Umei’s e com as escolas integradas começou com o nosso governo. Fizemos um projeto pedagógico extraordinário, construímos 14 novas escolas e renovamos e reformamos dezenas de unidades. Mas, dentro desse projeto extraordinário que fizemos, teve um ponto que erramos, ponto este que deveria ter sido corrigido: a implantação da escola plural. Para manter as crianças e adolescentes nas escolas, nós flexibilizamos a questão da avaliação. Isso, eu penso que não seria feito novamente. Mas, na administração do prefeito Fernando Pimentel essa questão foi corrigida. Eu acredito que é fundamental que nós tenhamos uma escola e uma educação prazerosa que acolha a criança e o adolescente. É necessário fazer uma mudança na educação para que as escolas públicas de Belo Horizonte fiquem no mesmo nível das escolas particulares. Eu tenho um compromisso histórico com a educação, pois sou professor. Hoje, eu penso que o critério de avaliação é importante, então, dentro desse grande trabalho que nós fizemos na educação é importante destacar esse ponto como uma questão a ser melhorada. Eu não repetiria esse erro.

Realmente, não estava nos meus planos ser candidato novamente à prefeitura. Mas, as coisas aconteceram de uma forma tão natural, que eu posso dizer que é a mão de Deus. O destino bateu na minha porta. E aí eu aceitei com a maior convicção.

O que fez o senhor se candidatar novamente ao cargo de prefeito?

Primeiramente por acontecimentos políticos em Belo Horizonte. Realmente, não estava nos meus planos ser candidato novamente à prefeitura. Mas, as coisas aconteceram de uma forma tão natural, que eu posso dizer que é a mão de Deus. O destino bateu na minha porta. E aí eu aceitei com a maior convicção. Primeiro, por causa do amor que eu tenho por Belo Horizonte, o meu compromisso com essa cidade, com o seu povo, a cidade que me acolheu, que me constitui e que me elegeu vereador e prefeito. Eu tenho um orgulho enorme de ter sido prefeito de Belo Horizonte. Essa cidade me deu em 2002, uma votação incrível para Deputado Federal. E depois como ministro eu nunca me esqueci de Belo Horizonte e sempre trabalhei em favor das causas sociais. Além disso, eu tenho um compromisso com o meu partido, o PT. Antes nós tínhamos uma coligação, mas o nosso adversário fez outra opção e saiu do nosso barco, fez uma opção com o PSDB. E nos deixou em uma situação de ter que manter a nossa coerência. Nós temos que conservar o nosso projeto histórico com Belo Horizonte. O projeto começou quando ganhamos em 1992, continuou com o nosso querido Célio de Castro e depois com o Fernando Pimentel. O atual prefeito fez outra opção. Então, nós resolvemos lançar a candidatura própria, para colocar em prática o nosso projeto e reafirmar as nossas prioridades.

Qual foi a maior experiência do senhor como político e como pessoa no período na prefeitura de Belo Horizonte?

Como prefeito de Belo Horizonte e no ministério de desenvolvimento e combate à fome que nós implantamos, trabalhamos muito e isso foi uma experiência muito positiva para mim. Essa experiência mostrou que é possível fazer uma gestão eficaz, competente, com resultados e ao mesmo tempo com práticas democráticas. A democracia participativa e a participação da sociedade contribui para a eficácia da ação pública, porque as pessoas se comprometem. Esse foi um grande aprendizado que eu tive, primeiro como prefeito e depois como ministro.

Como o senhor vê a participação e a influência do Lula e da Presidenta Dilma Rousseff na sua campanha?

A participação do Lula se dá de uma forma muito espontânea, eu sou candidato a prefeito de Belo Horizonte e pretendo ganhar as eleições com a história que a gente tem. Eu já fui prefeito da cidade e fizemos um governo que marcou a história. Fui vereador, relator na Lei Orgânica e trabalhei no ministério do desenvolvimento social. A minha relação com o Lula, como já disse, é anterior ao Partido dos Trabalhadores, nós temos afinidades, nós temos objetivos e compromissos comuns. Por isso o presidente me convocou para ser ministro de um dos principais ministérios do seu governo: o ministério que mudou o Brasil, um ministério com um orçamento de 40 bilhões de reais, um ministério que não há uma denúncia e não há um questionamento do ponto de vista ético e moral. Então, a presença do Lula na campanha é a presença de um amigo e a presença de muitos projetos compartilhados. Da mesma forma eu vejo a participação da presidenta Dilma. Nós somos do mesmo partido e nós fomos colegas no governo do presidente Lula.

Quais são as suas principais propostas para a área da saúde?

Minha prioridade é a saúde. A saúde foi esquecida pelo atual governo de Belo Horizonte. Minha proposta imediata seria cuidar dos centros de saúdes e garantir que eles abram aos fins de semana, porque doença não tem hora para aparecer. Vou fazer um trabalho integrado com os profissionais da saúde, garantir medicamentos, equipamentos e funcionamento integral nos postos de saúde. Darei também todo apoio às equipes de saúde da família e vou ampliar ampliá-las de tal maneira que as famílias tenham contato direto como o seu médico, inclusive vou aumentar o número de profissionais. Vamos implantar nove unidades de especialidades na área da saúde para atender a demanda. Além disso, vamos concluir uma obra que vem se arrastando, que é o Hospital do Barreiro. Vamos integrá-lo ao Hospital Odilon Behrens, Hospital das Clínicas, Santa Casa, e demais hospitais do estado. Também buscarei uma ação integrada com a rede privada para fazermos de Belo Horizonte um centro de referência no campo do atendimento médico.

Nas últimas pesquisas o senhor aparece atrás do seu principal adversário, o atual prefeito Márcio Lacerda. O que pretende fazer para reverter essa situação?

Nós estamos crescendo nas pesquisas, meu adversário já é candidato há quase quatro anos, inclusive investindo muito em publicidade, então, ele está na frente por causa disso. A minha candidatura começou a pouco mais de dois meses. Eu não era candidato e estamos colocando as nossas propostas, o nosso entusiasmo e a nossa liderança somente agora. Estou sentindo uma energia muito boa com a adesão das pessoas. Para mim a campanha eleitoral, além do resultado que é importante, é um momento muito prazeroso, um momento de conversar com as pessoas e de elevar o nível de consciência da cidadania.

Por que os belo-horizontinos devem escolhê-lo novamente como prefeito?

Porque eu já fui prefeito e fizemos um belo trabalho, porque aprendi muito como deputado federal e porque aprendi estudando, quando voltei para a universidade. Aprendi como ministro do desenvolvimento social e combate à fome e estabeleci contatos no Brasil e no mundo. Apresento a mais absoluta convicção de que voltarei para fazer mais e fazer melhor. Possuo um profundo desejo de fazer de Belo Horizonte a capital das oportunidades, oportunidades para os nossos jovens e para as pessoas que estão progredindo na vida, esta classe média que está surgindo por conta das políticas sociais. Este desejo de fazermos de Belo Horizonte uma cidade efetivamente comprometida com a vida, onde as pessoas possam viver mais e melhor.

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